A Aprendizagem Incompleta das Sombras – Desenho e a Recusa em Ser Obra

Resumo 

Com base numa série de laboratórios de desenho com luz, este artigo descreve uma experiência de investigação-ação sobre a perceção qualitativa da luz, realizada com estudantes do segundo ano da Licenciatura em Artes Plásticas e Design de Comunicação da Universidade do Porto. Esta experiência, marcada pela noção de désoeuvrement de George Bataille e pelo Manifesto Incompleto para o Crescimento de Bruce Mau, procura transformar a perceção da luz/sombra na experiência autográfica do desenho. Ao trabalharmos a autonomização da luz/sombra, relacionamos a perceção do espaço enquanto luz com a experiência vivida do desenho como marca no espaço, convocando diferentes modos de cognição incorporada. O artigo descreve a metodologia dos laboratórios e as interações geradas entre projeção, marca e construção do sentido pelos estudantes. 

Colocando-se fora da necessidade de uma imagem tangível, a experiência questiona os paradigmas que informam o ensino-aprendizagem do desenho como projeção linear de uma imagem que surge de forma acabada numa superfície. 

Ao focar-se na natureza qualitativa da própria projeção com os seus focos, reflexões, refrações e interferências, o desenho de luz perturba este modelo linear de formação da imagem, ativando um processo de aprendizagem autorreflexivo, baseado na abertura da forma e na sua ambiguidade.